11 de fev. de 2014
Meu artigo sobre o ceticismo.
CETICISMO:
Todo conhecimento é relativo
Jaciene Machado[1]
RESUMO: O
presente artigo traz em contexto, uma análise sobre o ceticismo, uma corrente
de pensamento filosófico que defende a ideia da impossibilidade do conhecimento
de qualquer verdade, é preciso estar em constante questionamento. Para os
céticos não existe verdade absoluta, todo conhecimento é relativo.
PALAVRAS-CHAVE:
Ceticismo, conhecimento, relativismo[2] e
Pirro.
ABSTRACT:
The present
article brings in context, an analysis on the scepticism, a chain of
philosophical thought that defends for ideia of the knowledge impossibility of
any true, it is necessary to be in constant questionamento. For the skeptics
does not exist absolute truth, all knowledge is relative.
WORDS-KEY: Scepticism, knowledge,
relativism and Pirro.
1.
INTRODUÇÃO
O
ceticismo foi criado na Grécia Antiga por Pirro de Élis (360-270 a.C), filósofo
grego. É a doutrina do questionamento, o termo ceticismo é de origem grega e
significa examinar, analisar. O ceticismo é uma corrente filosófica que
acredita não existir uma verdade absoluta, rejeita qualquer tipo de dogma (afirmativa
considerada verdadeira sem constatação). Para os céticos todo conhecimento é
relativo, pois estar sujeito da realidade da pessoa que o possui e das
condições do objeto que está sendo avaliado. O sujeito não seria capaz de
aprender o objeto, o ceticismo possui um olhar para o sujeito, o conhecimento
como inquietação ativa do objeto seria, segundo ele impossível. É preciso estar
em constante questionamento, sobretudo, em relação aos fenômenos metafísicos,
religiosos e dogmáticos.
Logo, os céticos defendem a ideia de assumir uma postura de
neutralidade em todos os assuntos, não fazendo julgamentos. Assim, o cético
defende a indiferença total. Mas, ao afirmar que tudo é relativo, o ceticismo
entra em contradição, pois está afirmando uma verdade. Com o passar do tempo, o
ceticismo se dividiu em duas linhas, o filosófico e o científico. O ceticismo filosófico é precisamente esse que
começa com a escola de Pirro. Seus seguidores afirmavam a impossibilidade de conseguir
o total conhecimento e adotaram métodos empíricos para afirmar seus
conhecimentos. O ceticismo filosófico se dedicou a analisar criticamente o
conhecimento e a percepção sobre a verdade.
O ceticismo científico é uma corrente contemporânea, as pessoas
que se identificam como céticas são aquelas que apresentam uma posição crítica geralmente
baseando-se no pensamento crítico e nos métodos científicos para verificar a
validade das coisas. Ganhando muita importância à evidência empírica, o que não
quer dizer que os céticos façam seu uso frequentemente. O
ceticismo em sua face negativa, dialética e antidogmática, se completa em sua
face positiva enquanto filosofia da vida prática cotidiana, lidando com o mundo
das aparências e da vida comum.
2. PIRRO DE ÉLIS
Segundo
Dumont[3],
Pirro era um Filósofo grego
(360-270 a.C), nascido na cidade de Élis,
pequena cidade de Peloponeso, viveu até aos 90 anos, inicialmente ele era
pintor, depois é que se interessou pela filosofia, viveu uma vida simples e na
companhia de sua irmã, Filista, que exercia a profissão de parteira. Considerado
o primeiro filósofo cético e
fundador da escola que veio a ser conhecida como pirronismo. Para Pirro podemos ter opinião, mas
certeza e conhecimento são impossíveis. Diz-se que ele era tão cético que isso
o teria levado a agir de maneira insensata. Os princípios de sua obra são
expressos, em primeiro lugar, pela palavra acatalepsia[4],
que define a impossibilidade de se conhecer a própria natureza das coisas.
Qualquer afirmativa pode ser contraditada por argumentos igualmente válidos. Todas
as ciências ou conhecimentos humanos, de acordo com eles, não vão além das
aparências. Em segundo lugar, é necessário conservar uma atitude de suspensão
intelectual. Em terceiro lugar, estes resultados são aplicados na vida em
geral. Pirro conclui que, dado que nada pode ser conhecido, a única atitude
adequada é ataraxia,
"despreocupação". A ataraxia é a atitude fundamental do
comportamento cético, essa indiferença revela um comportamento negativo perante
o valor ontológico do conhecimento.
O caminho do sábio, diz
Pirro, é perguntar-se três questões: Primeiro deve perguntar o que são as
coisas e de que são formadas? Segundo, como estamos relacionados a estas?
Terceiro, perguntar qual deve ser nossa atitude em relação a elas? Sobre o que
as coisas são, podemos apenas responder que não sabemos nada. Sabemos apenas de
sua aparência, mas somos ignorantes de sua substância íntima, de sua essência.
O próprio Pirro responde a essas perguntas. O que
são as coisas em si mesmas? Para ele, o que
há para saber acerca da natureza das coisas é o fato de não haver natureza alguma,
nenhuma “ideia”, “essência” ou “substância” (mesmo material). Que disposições devemos ter em relação às
coisas? Nossas
sensações e opiniões não podem mais ser ditas rigorosamente verdadeiras ou
falsas, e, por isso, não teríamos, na compreensão de Pirro, razão para
conceder-lhes maior atenção. Devemos ser, pois, sem opinião e sem inclinação. O que nos resultará dessas disposições? Não
ter opinião sobre essas coisas, considerá-las sem inclinação, sem agitação,
podemos dizer, indiferentemente, conduz segundo Pirro, primeiro, o silêncio, o
fim da tagarelice acerca de uma suposta natureza das coisas.
O
primeiro cético, no entanto, não se preocupou em instituir uma escola nos
padrões tradicionais, e não deixou nenhum escrito. Os dados de que dispomos
para tentar reconstruir a vida e pensamento de Pirro são encontradas em
fragmentos de obras de autores que se consideraram discípulos do filósofo,
sobretudo nos textos de Timon de Fliús[5],
e nos testemunhos apresentados por Diógenes Laércio, nas Vidas e
doutrinas dos filósofos ilustres[6]. E principalmente
por Sexto Empírico[7]
o grande historiador do ceticismo. Segundo Brochard[8]:
Não obstante, Pirro é um dos filósofos mais mal
conhecidos da Antiguidade. Temos poucas informações sobre ele, e, além disso,
essas informações não estão muito bem de acordo umas com as outras. Há por
assim dizer, dois Pirros: o da tradição cética representada por Arístocles,
Sexto Empírico e Diógenes, e o da tradição acadêmica conservada por Cícero.
A história do ceticismo antigo termina no século
III.
3. PROBLEMÁTICAS DO CETICISMO
O
ceticismo questiona a verdade do conhecimento e é contra qualquer expressão do
dogmatismo. Não possui a expectativa de encontrar uma solução para os problemas
filosóficos, como os filósofos dogmáticos se preocupam. Os céticos estão em uma
investigação permanente, e adotam uma postura nem positiva e nem negativa. O
que faz com que esse constante questionamento acabe não possuindo resultado,
não leve a lugar nenhum.
(...) O cético
costumeiramente se empenha em desenvolver a argumentação em favor da tese
oposta e momentaneamente em aparência mais fraca, de modo a revelar a isostheneia, a igualdade de força entre
as partes em conflito que conduz a suspensão de juízo. (PEREIRA, 1997, p.52)
Como
não existe juízo ou conhecimento verdadeiro, Pirro o fundador de ceticismo
recomenda a suspensão do juízo, a epokhé
(parênteses diante do mundo). O ceticismo sofre de uma autocontradição, pois
afirma que o conhecimento é impossível, não acreditando em uma verdade, e acaba
expressando um conhecimento. O que faz com que o mesmo entre em contradição. Assim,
a possibilidade do conhecimento é afirmada pelo cético e, por outro, será posta
em dúvida. Para esse ceticismo não há verdade e nem certeza, apenas verossimilhança.
Verossímil é aquilo que chega próximo do verdadeiro, sendo assim quem sacrifica
o conceito de verdade deve recusar também o de verossimilhança. Portanto, o
filósofo cético está sempre em busca, questionando e duvidando da verdade já
dita sobre as coisas.
4. PRERROGATIVAS DO CETICISMO
Segundo
Sexto Empírico a filosofia dos céticos é a busca pela verdade em bem da
felicidade humana e não o seu contrário.
(...) Mas se o
objetivo da investigação filosófica é a busca pela verdade como exercício pelo
conforto e da felicidade do espírito, os céticos seguidores de Pirro denunciam
que as demais formas de filosofar não alcançam nem a verdade e muito menos a
felicidade. Por não conseguirem defender as suas pretensas verdades dos
argumentos céticos, os dogmáticos e os acadêmicos terminam por trazer
desconforto e infelicidade aos seus seguidores, o que contraria o próprio
sentido da busca pela verdade. Desse modo, defenderemos que ao contrário do que
muitas vezes erroneamente se pensa da perspectiva pirrônica, ela não é fechada
ou intransigente, mas ao contrário, é um modo de filosofar coerente segundo
suas próprias razões, e que procura, sobretudo, alcançar pela filosofia a
tranquilidade do espírito e a vida feliz. (ZANETTE, 2010, p. 142)
O
ceticismo defende a ideia que mesmo que tenhamos muitas crenças, não sabemos
nada sobre a verdade da natureza das coisas, e mesmo se saibamos algo, sabemos
menos do que cremos saber. O ceticismo na busca pela vida feliz também
pesquisou na esperança de encontrar uma verdade absoluta que especificasse a
verdadeira natureza das coisas. Os céticos perceberam que quando encontravam um
argumento que parecia imbatível, ao fazer uma investigação a fundo percebiam
que aparecia outro argumento que anulava o primeiro. Os céticos são aqueles que
afirmam ser possível e justificam a busca pela verdade orientada na necessidade
de seguir na investigação. Assim, o sentido da investigação filosófica é
firmar-se na busca, persistindo na indagação. Com as dificuldades de se
concluir suas indagações, o ceticismo suspendeu o juízo – Epokhé acabando com a inquietação do espírito. Alcançando a Ataraxia, a tranquilidade do espírito,
que por consequência leva a uma vida feliz.
5. CONCLUSÃO
Em
suma, o ceticismo é uma escola filosófica fundada por Pirro de Élis, que
questiona os alicerces do conhecimento metafísico, científico, moral e, principalmente,
religioso. Nega a possibilidade de se conhecer com veracidade qualquer verdade
e recusa toda afirmação dogmática - aquela que é benquista como verdadeira, sem
provas. Para os céticos, uma afirmativa para ser provada exige outra, que
requer outra, até o infinito. O conhecimento, para eles, é relativo: depende da
natureza do sujeito e das condições do objeto por ele estudado. Costumes, leis
e opiniões variam segundo a sociedade e o período histórico, tornando
impossível chegar a conceitos de real e irreal, de correto e incorreto.
O ceticismo é, portanto, uma ciência
de duplo sentido. Para Pirro o ceticismo não é um fim, e sim, um meio, ele o
atravessa sem se deter nele. Os seguidores de Pirro defendem a suspensão do
juízo, uma postura neutra diante da realidade. Se for impossível conhecer a
verdade, tudo se torna indiferente e equilibrado. Para eles, o ideal do sábio é
a indiferença, a tranquilidade, a ataraxia.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BROCHARD,
Victor. Pirro e o ceticismo primitivo.
Título original: “Pyrrhon et le scepticisme primitif”. Artigo publicado na Revue philosophique de La France et de
l’Étranger, Ano 6, 1885, p.517-532. Tradução [Jaimir Conte].
DUMONT,
Jean-Paul. Ceticismo. Tradução:
Jaimir Conte. Fonte: Textos de Interesse Filosófico. Original: “Scepticism”:
Artigo da Encyclopaedia Universalis, Paris, s.d., vol.14, pp. 719-723.
HESSEN, Joannes. Teoria do Conhecimento. Tradução: João Vergílio Gallerani Cuter.
Revisão técnica Sérgio Sérvulo da Cunha. São Paulo: Martins Fonte, 1999.
PEREIRA, Oswaldo Porchat. O Ceticismo Pirrônico e os Problemas
Filosóficos. Departamento de Filosofia. Universidade de São Paulo, Brasil,
1997. Editora UFSC, pp. 41-107.
ROMÃO, Rui Bertrand. Dicionário de
Filosofia Moral e Política. Instituto de Filosofia da Linguagem. Disponível em http://www.ifl.pt. Acesso em 20
de novembro de 2013.
STOUGH, Charlotte. Sexto
Empírico. Artigo publicado in: Dancy, Jonathan e Sosa, Ernest (org) A Companion to Epistemology. Blackwell
Companion to philosophy, 1997, pp. 475-477. Tradução: Jaimir Conte.
ZANETTE, Edgard
Vinícius Cacho. O Ceticismo Pirrônico e as Classificações das Filosofias
Possíveis. In: Theoria - Revista
Eletrônica de Filosofia. Edição 05/2010. Disponível em http://www.theoria.com.br/. Acesso em 20
de novembro de 2013.
[1] Graduanda em Ciências Humanas –
UFMA. Graduada em Matemática – UNITINS. Trabalho apresentado na disciplina
Teoria do Conhecimento e Teoria das Ciências, ministrada pelo prof. Dr.
Wandeilson Miranda, para obtenção da 3ª nota. 2013.
[2] Segundo Romão, (s/d, p.01),
relativismo é a, “doutrina (ou, nalguns casos, simplesmente a atitude)
filosófica que, valendo-se da contraposição entre o uno e o múltiplo, frisa
esta última polaridade, enfatizando o carácter relacional entre as unidades que
a compõem e recusando sistemas de valores que por aquela polaridade e esse
carácter não estejam devidamente regidos. Outra forma de o definir será a de
dizer que o relativismo desenvolve a perspectiva segundo a qual nenhuma coisa
pode ser adequadamente encarada se total e artificialmente isolada daqueloutras
com que, de uma ou outra maneira, se articula necessariamente. Assim, do ponto
de vista de quem sustente tal doutrina, as coisas e os valores em consideração
carecem de contextualização e terão de ser tomados como relativos a outros e a um ou mais sistemas em que se integram e que
os enquadram, não podendo ser afirmados em absoluto”.
[3] Cf., DUMONT, Ceticismo. Ver
bibliografia.
[4] É a incompreensão ou a
impossibilidade de compreender ou conceber uma coisa. Os pirrônicos tentaram
mostrar, enquanto céticos da Academia Platônica uma acatalepsia absoluta; todas
as ciências ou conhecimentos humanos, de acordo com eles, não vão além das
aparências e verossimilhança.
[5] Escritor satírico e filósofo
cético, considerado o principal discípulo de Pirro.
[6] Obra escrita por Diógenes
Laércio composta de dez livros, que contêm informações sobre o desenvolvimento
da filosofia grega. Uma grande contribuição à história da filosofia, contendo
uma breve introdução sobre a vida e doutrinas da maioria dos filósofos gregos.
[7] Segundo STOUGH, (1997, p. 01), “Sexto
Empírico foi um cético grego da escola pirrônica e um médico praticante que
viveu provavelmente durante a última metade do século II d.C. As datas exatas a
seu respeito são controvérsias e os detalhes de sua vida praticamente
desconhecido de nós, contudo ele é a mais importante fonte de nosso
conhecimento das filosofias céticas gregas antigas”.
[8] BROCHARD, Pirro e o ceticismo
primitivo, p. 01. Título original: “Pyrrhon et le scepticisme primitif”. Artigo
publicado na Revue philosophique de La France et de l’Étranger, Ano 6, 1885,
p.517-532. Tradução [Jaimir Conte].
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