31 de ago. de 2013
15 de ago. de 2013
Resenha - Fundação Francesa de São Luís e seus Mitos - Maria de Lourdes Lauande Lacroix
No seu texto “A fundação francesa de São
Luís e seus mitos” Maria de Lourdes Lauande Lacroix professora aposentada dos
departamentos de história das Universidades Federal do Maranhão (UFMA) e
Estadual do Maranhão (UEMA), trata das duas formas de interpretação da fundação
de São Luís capital do Maranhão. A histórica:
Baseada na figura do português, encontrada nos registros de cronistas e
historiadores portugueses, na fase colonial, e até brasileiros, já no período
nacional. E a mítica: Mais recente, centrada na figura do francês, a partir de
fins do século XIX.
As
duas questões principais a respeito do tema abordado por Lacroix são: O que teria levado os ludovicenses à ideia da
origem francesa da cidade, sendo esta desde o início lusitana? O que terá
ocorrido na memória histórica da cidade para que os franceses deixassem de ser considerados
“invasores” e passarem a ser vistos como “fundadores”? Em 26 de julho de 1612
os franceses chegaram ao Maranhão. O projeto da França equinocial, nome esse
dado ao projeto da fundação de São Luís pelos franceses era de fundar uma
frança no Brasil, que São Luís se tornasse um pedaço da França.
Ao chegar à ilha de Upaon-Açu os
franceses visto que foram bem recebidos pelos nativos, trataram logo de fazer
palhoças para a acomodação, alguns preferiram ficar nas aldeias junto com os
nativos, e começaram os preparativos para a cerimônia religiosa, costume ao
chegar a terra desabitada. O lugar escolhido, estratégico, onde foi montada a
artilharia trazida com a esquadra, recebeu o nome de Forte de Saint-Louis, em
homenagem a Luis XIII. Não se foi referido a nenhuma edificação mais sólida,
além das construções de pau-a-pique, o que nos leva a criticar essa fundação
francesa de São Luís. “A ausência de construções definitivas pode ser talvez
justificada pela insegurança da propriedade da terra, pela prioridade de duas
frentes de trabalho o reconhecimento da região através de expedições
exploratórias e a solidificação da amizade com os nativos, tarefa missionária
dos capuchinhos - ou por concordarem ser precoce a escolha para a sede da
sonhada França Equinocial”. (LACROIX, p.30, 2008).
O fim do projeto deu-se com a
chegada dos portugueses, travando assim a batalha de Guaxenduba, sendo esta
travada no fatídico dia 19 de novembro de 1614, com a derrota dos franceses,
apesar de seus sete navios, quarenta e seis canoas, mais de trezentos franceses
e cerca de dois mil índios. A vitória dos portugueses abateu os franceses, surgindo
assim o tratado de paz, que dava a propriedade das terras para os portugueses.
Sendo ocupado o Forte de Saint Louis, assim como toda a região, deu-se a
reintegração do Maranhão aos lusitanos, no dia 2 de novembro de 1615.
O curto tempo de três anos de
permanência da expedição francesa no Maranhão, de 26 de julho de 1612 a 02 de
novembro de 1615, os impossibilitou de deixar grandes marcas. “Os únicos sinais
de ocupação francesa são: o local onde aportaram e posteriormente escolhido
pelos lusitanos para a construção da cidade de São Luís; as improvisadas
capelas, melhoradas pelos missionários portugueses e tornadas núcleos
religiosos, perdurados até nossos dias; e o nome do Forte de São Luís,
transposto pelos portugueses para a cidade”. (LACROIX, p.37, 2008).
Por todo o século XX a origem
francesa permaneceu na memória do ludovicense que faz questão de passar de
geração para geração a fundação de São Luís pelos franceses e não pelos
portugueses, como ocorreu com a maioria das cidades brasileiras. A elite
ludovicense repete com orgulho essa fundação francesa de São Luís, Lacroix
ressalta que é interessante saber se é um sentimento antigo que, hibernado, perpassou
os séculos e só emergiu mais recentemente ou essa versão da fundação de São
Luís pelos franceses surgiu no início do século XX.
No chamado século do galicismo, o Maranhão encontrava-se em uma boa posição econômica, o que resultou em uma
elevação cultural, modificação da sociedade maranhense, e no âmbito
intelectual. A elite maranhense absorveu os modelos franceses, resultando em
uma singularidade da província. O modelo de educação estava centrado nos
retorno dos jovens que foram estudar na Europa e trouxeram novas ideias, os
costumes foram se modificando, as boas maneiras passaram a serem praticadas, no
vestuário passou-se a copiar modelos franceses, os comerciantes traziam roupas
e acessórios atuais para venda. Tomou-se conhecimento do gosto refinado na
culinária, no vocabulário palavras francesas passaram a fazer parte do diálogo
maranhense.
No ambiente cultural o teatro era
preferido pela elite, à classe dominante maranhense assimilou os hábitos,
costumes europeus, cultivando também mais as artes e as letras. Somente em 1823
o Maranhão integrou-se ao Brasil, desvinculando-se do jugo português, o
ludovicense não se sentia brasileiro. A riqueza nas letras, com ilustres
jornalistas, poetas, escritores, estudiosos e intelectuais rendeu ao Maranhão o
cognome de Atenas Brasileira, essa ideia foi aceita pelos menos favorecidos, e
o Maranhão em seu declínio econômico e cultural, por varias décadas foi nutrido
por este orgulho. As marcas lusitanas que não podem ser apagadas estão por toda
São Luís, os casarões, os sobrados, os azulejos, os nomes de ruas que até hoje
são os mesmos, importação de mantimentos de Portugal, a música e o folclore
maranhense, que trazem forte acento português. O maranhão tem muito mais do
português do que do francês.
Perguntas que nos fazemos: Por que,
quando e como foi se reproduzido a ideia de excluir a ação lusitana da fundação
de São Luís? De quando esta data este orgulho de São Luís ter sido fundada
pelos franceses? Por que no Maranhão, essa influência levou ao culto da
fundação de São Luís pelos franceses? Sabemos que os franceses em São Luís não
deixaram seus costumes, usos e nem outras quaisquer influencias. Foram
conservados somente os marcos iniciais da parte urbana, o nome do Forte de São
Luís, que os portugueses transferiram para a capital do Maranhão e alguns
núcleos religiosos.
Em virtude de tudo isso, o que se
pode pensar é que a elite maranhense faz questão de frisar essa passagem
francesa pelo Maranhão com o fator diferenciador das outras cidades, dando
ênfase a essa identidade singular, que passou de geração para geração atingindo
não só a leite, mas a todas as camas da sociedade maranhense, apesar da
evidente lusitanidade de suas origens e tradições.
Jaciene Machado
Referências
LACROIX, Maria
de Lourdes Lauande. A fundação Francesa de São Luís e seus Mitos. São Luís:
Editora UEMA, 2008. 3ª edição revisada e ampliada.
LACROIX, Maria
de Lourdes Lauande. Jerônimo de Albuquerque Maranhão: guerra e fundação no
Brasil Colonial. São Luís, UEMA, 2006.
SEED,
Patrícia. Cerimônias de pose na conquista européia do novo mundo (1492/1640).
Tradução Lenita R. Esteves. – São Paulo: Editora UNESP, 1999.
14 de ago. de 2013
Resenha "A ética protestante e o espírito do capitalismo" Marx Weber
Marx
Weber no seu ensaio “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, tem por
objetivo a reflexão sobre o impacto que os motivos religiosos tiveram no
desenvolvimento da nossa cultura moderna. E até que ponto esses motivos
religiosos contribuíram para a expansão do espírito do capitalismo mundo afora.
Weber tenta mostrar o significado que o racionalismo ascético teve para o
conteúdo da ética político-social, para o modo de funcionamento e de
organização das comunidades sociais. Um novo objeto de análise estava sendo
feito, o capitalismo, não como economia ou modo de produção, mas como
“espírito”, a cultura capitalista moderna. O espírito do capitalismo vivenciado
pelas pessoas na condução da vida de todo dia, como conduta de vida.
Benjamim Franklin, com suas
advertências morais: “Lembra-te que tempo é dinheiro”, “Lembra-te que crédito é
dinheiro”, “Lembra-te que dinheiro é procriador por natureza e fértil”;
”Lembra-te que um bom pagador é senhor da bolsa alheia”; são de utilidades,
pois a honestidade, a pontualidade, a presteza, e a frugalidade trazem crédito,
por isso são virtudes. E o excesso de virtude aos olhos de Franklin, seria um
desperdício improdutivo. A ideia de profissão como dever, é uma obrigação que o
indivíduo deve sentir, seja qual for sua atividade profissional, essa é a ideia
característica da ética social da cultura capitalista. O capitalismo não pode
empregar operários indisciplinados, assim como não pode lhe servir homens de
negócios cujo comportamento externo for sem escrúpulos. O obstáculo encontrado
pelo espírito do capitalismo, no qual teve de lutar, foi o tradicionalismo, um
estilo de vida formado por normas e falhado a ética.
Nesse tradicionalismo o homem não
quer só ganhar dinheiro e mais dinheiro, ele quer viver, ganhar o necessário
para viver, conforme está habituado. A capacidade de concentração mental, um
rigoroso espírito de poupança, um severo domínio de si e uma sobriedade, elevam
a produtividade, é uma oportunidade de superar a rotina tradicionalista, em
consequência da educação religiosa. A questão aqui é o conceito de vocação.
Vocação seria aquilo que o homem tem de aceitar como missão, missão essa dada
por Deus, segundo Lutero.
A doutrina da predestinação, não
havia meios que proporcionasse a graça divina a quem Deus houvesse dedicado
negá-la. Constitui o individualismo e coloração pessimista, ainda hoje percute
no caráter nacional e nas instituições dos povos com passado puritano. Como a
pessoa sabia que era um eleito? Para Calvino, devemos nos contentar com o
decreto de Deus e perseverar na confiança em Cristo, operada pela verdadeira
fé. A vida de Lutero tendia para a cultura mística do sentimento, já Calvino
sua vida religiosa tendia para a ação ascética. O protestantismo ascético
oferece a fundamentação coerente da ideia de vocação profissional. Não há tempo
para o prazer e o ócio, só serve a ação, o tempo é muito valioso e cada hora
perdida é trabalho subtraído ao serviço da glória de Deus. Com o aguçamento da
significação ascética da profissão estável transfigura o moderno homem
especializado, e a interpretação das oportunidades de lucro, transfigura o
homem de negócios.
A ascese protestante estrangulou o
consumo, o luxo, rompeu as cadeias da ambição de lucro, resultando a acumulação
de capital mediante coerção ascética à poupança. Weber conclui que seria
preciso analisar a relação entre racionalismo ascético e o racionalismo humanista,
seus ideais de vida e suas influencias culturais. Acompanhar a historia de uma
ascese intramundana até a sua dissolução no puro utilitarismo. Enfim, só assim
se poderia tirar a significação cultural do protestantismo ascético comparado
com outros elementos que modelam a cultura moderna.
Jaciene Machado
Referência
WEBER,
Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia
das letras, 2004.
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